terça-feira, 6 de julho de 2010

Liberdade x saudade

As Autobahns alemãs são tão bem construídas e planejadas que eu digo que vc nem precisa dirigir, só liga o carro que a estrada dirigirá por você. Por conta da estabilidade e das milhares de viagens de carro q fiz esse ano, aprendi a ler no carro nos momentos que estou de co-pilota. Comprei até uma lampadinha com um clip: vc clipa na capa do livro e direciona o cabinho flexível até a página que vc quer ler. Muito bem. Estava eu indo buscar o Derk - amigo holandês que está hospedado aqui em casa - em Dortmund. Peguei um dos meus livrinhos da coleção Primeiros Passos da Ed. Brasiliense: O QUE É EXISTENCIALISMO. Como virginiana de carteirinha, fui obrigada a dar todas as informações nos mínimos detalhes para que não haja confusão.
Vou citar um trecho do texto para fazer meus comentários:

"Na concepção sartriana, a liberdade é fonte de angústia do 'para-si'. Vejamos agora se há possibilidade de o indivíduo escapar do paradoxo de estar condenado à liberdade. Sartre responde afirmativamente. De que maneira? Por meio do comportamento que ele denomina má-fé.
Livre, consciente disso, o homem se angustia porque se vê compelido a escolher. A angústia da liberdade é a angústia de optar. Contra a sua liberdade, para fugir dela, tentando assim escapar da angústia que lhe provoca a consciência de ser livre, o homem se refugia na má-fé. Forçado pelas circunstâncias a agir, a escolher, o que significa assumir a responsabilidade pela decisão que tomar, o indivíduo busca disfarçar essa exigência adotando uma atitude de má-fé - finge escolher, SEM na verdade ESCOLHER. Desprovido de essência e angustiado por saber que lhe cabe criá-la, deixa-se iludir pela ideia de que seu destino está irremediavelmente traçado.

(...)

Para Sartre, é outra a estrutura da mente humana, e não aquela apresentada por Freud. A consciência divide-se entre ser e não-ser. O indivíduo acredita na mentira que prega, mas nem por isso desconhece a verdade que busca ocultar. Ele tem consciência daquilo que oculta, não desconhece os motivos de seus atos. Apenas se refugia numa máscara para não assumir sua liberdade. Não existe inconsciente, proclama Sartre. As pessoas não são dirigidas por forças inconscientes - TODOS OS SEUS ATOS SÃO CONSCIENTES. "
fonte: Penha, João da. O que é existencialismo. pp. 81, 83. SP: Brasiliense, 2004

Ao ler MÁ-FÉ ontem pensei apenas em um pecado capital praticado diariamente: PREGUIÇA. A preguiça de escolher e assumir as consequências deve ser um dos motivos para elas depositarem a culpa de sua infeliz vida no OUTRO, no trabalho, nos pais, na esposa, nos filhos, na economia mundial ou seja lá o que for. (continuo no próx. post)




3 comentários:

lady braga disse...

É...eis a vida e suas contradições...queremos liberdade, mas também podemos ser vitimas dela, de forma consciente ou inconsciente.
E a preguiça...aaah a preguiçaa...tanta gente se esconde atrás dela conscientemente....hahahha ;)

Paula disse...

o que eu acho mais louco nessa história toda é que no cotidiano nos escondemos dessa clareza de consciência de que nossos atos e direções podem e devem ser conscientemente escolhidos. A preguiça é realmente uma boa resposta pra isso, pq além de ter que ponderar e escolher, temos também que AGIR após a escolha. E agir demanda uma série de coisas, inclusive lidar com o real e as coisas que ele trás nessa Gostei do post, e achei lindo o novo visu do blog. Beijo

Stefanie disse...

Assumir responsabilidades muitas vezes assusta. Para resolver certos problemas e fazer decisões são necessárias mudanças de comportamento, de pensamento e quem sabe até de visão de mundo. Como a mudança é outra coisa que aterroriza tb, o ser humano prefere ficar eternamente em sua prisão singular sofrendo, reclamando e culpando o mundo pela sua infelicidade. Ó mediocridade.