Novo Trailer do Filme "O Bem Amado"

Avó

Hoje sonhei com minha avó. Eu estava em Natal-RN de partida. Logo mais iria pegar um voo de volta para casa e precisava receber algo de minha vó, como se fosse uma permissão ou uma benção. Ela aparecia séria falava comigo umas três frases e virava de costas. Então eu estava livre para partir.

COnsidero minha avó como meu anjo da guarda. Escrevo anjO com O já que sexo pertence ao corpo não ao espírito. Se houve, portanto, um gênero neutro em português - como o alemão e francês possuem - anjos estariam nessa categoria.

Minha mãe sempre diz que quando os ancestrais morrem, eles se transformam em nossos protetores no outro mundo. Sempre que estou confusa, sonho com minha avó e ela me passa muita segurança.

Para mim é como se ela ainda estivesse viva. Já passastes por algo parecido com alguém que já morreu?

Existencialismo

Hoje recebi uma bela notícia: Meu amigo foi demitido!

Sim, bela notícia pois há anos o ouço reclamar, o vejo infeliz, insatisfeito, sentindo falta de reconhecimento (já se sentiu assim? aposto que já caso vc não faça o que gosta). Sempre que conversávamos eu tentava empurrá-lo um pouco mais para a frente dizendo "vc não precisa trabalhar até o fim da vida neste lugar. Existem mil lugares para trabalhar. Vc é muito criativo e eficiente para ficar empacado num lugar como aquele".

Eu de um lado, a terapêuta dele do outro durante anos e finalmente ele conseguiu negociar uma demissão e pulou na cachoeira da LIBERDADE.

ELe me escreveu no email que adorou a sensação de ter o controle da própria vida.

Está aí um belo caso de fazer suas próprias escolhas -e não aquilo que é esperado que vc faça - e arcar com as consequências - que nesse caso, tenho certeza que serão as melhores.

Bem, a teoria feita por Sartre é que muitas vezes o ser humano comporta-se "em-si". O em-si é o caso da pedra. A pedra não tem consciência, ela apenas é. É em-si. O ser humano comete esse erro quando comporta-se como objeto e não como ser pensante e dotado de crítica e liberdade de ação. É como se vc fosse apenas um funcionário de uma empresa, nada mais. Trabalhar numa empresa é um dos papéis que atuamos na sociedade, mas nunca será o único. Mesmo se não houvesse uma sociedade e vc morasse embaixo de uma árvore do deserto, vc continuaria sendo vc e continuaria tendo consciência: do deserto, da árvore, da fome, do calor, etc. A árvore, por outro lado, não possui essa habilidade de ter consciência do que ela é e como os outros a veem.

Voltando ao ponto...vivemos numa sociedade "livre e democrática" aparentemente, vivemos entretanto aprisionado pela nossa falta de atitude, falta de tomada de decisão, falta de responsabilidade. Pela preguiça agimos como é esperado que ajamos e não do jeito que cremos ser o certo.

Imagine um Machado de Assis que nunca tivesse escrito um conto, um Bach que não desenvolvesse seu lado musical, um Paul Gauguin que fosse bancário¹ a vida inteira sem nunca ter se aventurado pelo mundo?

Ter o controle da própria vida é de um prazer imenso e tb de um terrível terror já que se fizeres algo que os outros não considerem sucesso, terás que aprender a ignorar a inveja, a crítica e manter-se no seu caminho de ser LIVRE. O Grande perigo maravilhoso de ser livre.

Sugestões de leitura: A insustentável leveza do ser. [milan kundera]

Anna Karênina [tolstói]

O Ser o e Nada [J.P. Sartre]

¹ Paul Gauguin nunca foi bancário e sim corretor de valores. Isso foi apenas uma suposição.

Liberdade x saudade

As Autobahns alemãs são tão bem construídas e planejadas que eu digo que vc nem precisa dirigir, só liga o carro que a estrada dirigirá por você. Por conta da estabilidade e das milhares de viagens de carro q fiz esse ano, aprendi a ler no carro nos momentos que estou de co-pilota. Comprei até uma lampadinha com um clip: vc clipa na capa do livro e direciona o cabinho flexível até a página que vc quer ler. Muito bem. Estava eu indo buscar o Derk - amigo holandês que está hospedado aqui em casa - em Dortmund. Peguei um dos meus livrinhos da coleção Primeiros Passos da Ed. Brasiliense: O QUE É EXISTENCIALISMO. Como virginiana de carteirinha, fui obrigada a dar todas as informações nos mínimos detalhes para que não haja confusão.

Vou citar um trecho do texto para fazer meus comentários:

"Na concepção sartriana, a liberdade é fonte de angústia do 'para-si'. Vejamos agora se há possibilidade de o indivíduo escapar do paradoxo de estar condenado à liberdade. Sartre responde afirmativamente. De que maneira? Por meio do comportamento que ele denomina má-fé.

Livre, consciente disso, o homem se angustia porque se vê compelido a escolher. A angústia da liberdade é a angústia de optar. Contra a sua liberdade, para fugir dela, tentando assim escapar da angústia que lhe provoca a consciência de ser livre, o homem se refugia na má-fé. Forçado pelas circunstâncias a agir, a escolher, o que significa assumir a responsabilidade pela decisão que tomar, o indivíduo busca disfarçar essa exigência adotando uma atitude de má-fé - finge escolher, SEM na verdade ESCOLHER. Desprovido de essência e angustiado por saber que lhe cabe criá-la, deixa-se iludir pela ideia de que seu destino está irremediavelmente traçado.

(...)

Para Sartre, é outra a estrutura da mente humana, e não aquela apresentada por Freud. A consciência divide-se entre ser e não-ser. O indivíduo acredita na mentira que prega, mas nem por isso desconhece a verdade que busca ocultar. Ele tem consciência daquilo que oculta, não desconhece os motivos de seus atos. Apenas se refugia numa máscara para não assumir sua liberdade. Não existe inconsciente, proclama Sartre. As pessoas não são dirigidas por forças inconscientes - TODOS OS SEUS ATOS SÃO CONSCIENTES. "

fonte: Penha, João da. O que é existencialismo. pp. 81, 83. SP: Brasiliense, 2004

Ao ler MÁ-FÉ ontem pensei apenas em um pecado capital praticado diariamente: PREGUIÇA. A preguiça de escolher e assumir as consequências deve ser um dos motivos para elas depositarem a culpa de sua infeliz vida no OUTRO, no trabalho, nos pais, na esposa, nos filhos, na economia mundial ou seja lá o que for. (continuo no próx. post)